O Velho Chico

Uma das coisas mais lindas que vi por essas viagens que faço seja no Brasil ou no exterior é de um azul maravilhoso e enorme. Impossível ficar alheio ao Rio São francisco.


Vejo-te cansado, sem mais o porte altaneiro,

Trazendo em ti, dores, ressentimentos, mágoas...

É que sabes que a transposição das tuas águas

Seja, talvez, a tua morte - o golpe derradeiro!


Vejo-te sem forças pra continuares lutando

Contra as práticas ilícitas e inconsequentes

Que estão matando, um a um, teus afluentes,

Sem perceberem que estão também te matando.


Contra a devastação que se faz nas paisagens

Que te rodeiam, refletida em mil atos insanos,

Contra a tua poluição pelos resíduos urbanos...

Contra o desmatamento das tuas margens...


Contra as queimadas, contra a pesca predatória...

Contra os atos em que te faltam com o respeito...

Contra o incessante assoreamento do teu leito

Deixando-te raso e mudando a tua trajetória.


Sofres pelas incertezas do teu destino

E pela dor que intimamente te atormenta,

De não poderes saciar a população sedenta

Que abriga o inóspito semi-árido nordestino.


Por presenciares, entristecido, as tristes cenas

Da erosão desbarrancando as tuas barrancas,

E te imaginares sem os barcos com as carrancas

Navegando, intrépidos, em tuas águas serenas.


Sofres, Velho Chico.

Serão tuas dores derradeiras?...

A tua dor é como se fosse também a minha...

Como deixar de ver tua população ribeirinha?...


Como deixar de ouvir a cantoria das lavadeiras?...

Vê-se que em teu seio a água já não mais abunda,

Agonizas a escorreres por entre seixos, lento...

Em alguns dos teus trechos tu estás sedento

Tal como a população sofrida que te circunda.


És, Velho Chico, o rio da "integração nacional",

Da Serra da Canastra, até o teu destino final,

No oceano, tu és o rio genuinamente brasileiro...


Estás cansado, com ressentimentos e mágoas,

É que sabes que a transposição das tuas águas

Seja, talvez, a tua morte - o golpe derradeiro!


Agenor Martinho Correa

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