Augusto dos Anjos..Cruz e Sousa...Baudelaire ... a tríade.
Olá crianças
Falar desses tres aí em cima é de uma responsabilidade enorme...primeiro que sou fã e fã é dado o direito da idolatria...da paixão sem medidas..essas coisas ...kkkkkkkkk mas o post é para o Augusto do Anjos que nasceu em 1884, lançou seu livro em 1912 e morreu em 1914... a influencia que ele teve de Baudelaire foi monstruosa ..assim como todos os simbolistas beberam de Baudelaire ... e Augusto leu Cruz e Sousa... e essas duas influencias trouxe para sua poesia a genialidade e uma originalidade suprema...um exemplo são essas duas preciosidades que tenho sempre comigo: No Egito de Cruz e Sousa... e Uma noite no Cairo de Augusto dos Anjos:
No Egito
Sob os ardentes sóis do fulvo Egito
De areia estuosa, de candente argila,
Dos sonhos da alma o turbilhão desfila,
Abre as asas no páramo infinito.
O Egito é sempre antigo, o velho rito
Onde um mistério singular se asila
E onde, talvez mais calma, mais tranquila
A alma descansa do sofrer prescrito.
Sobre ruínas d'ouro do passado
No céu cavo, remoto, ermo e sagrado,
Torva morte espectral pairou ufana...
E no aspecto de tudo, em torno, em tudo,
Árido, pétreo, silencioso, mudo,
Parece morta a própria dor humana !
Cruz e Sousa
Agora leiam o poema de Augusto dos Anjos:
Uma noite no Cairo
Noite no Egito. O céu claro e profundo
Fulgura. A rua é triste. A lua cheia
Está sinistra, e sobre a paz do mundo
A alma dos Faraós anda e vagueia.
Os mastins negros vão ladrando à lua...
O Cairo é de uma formosura arcaica.
No ângulo mais recôndito da rua
Passa cantando uma mulher hebraica.
O Egito é sempre assim quando anoitece!
Às vezes, das piramides o quedo
E atro perfil, exposto ao luar, parece
Uma sombria interjeição de medo
Como um constante àqueles misereres,
Num quiosque em festa a alegra turba grita,
E dentro dançam homens e mulheres
Numa aglomeração cosmopolita.
Tonto do vinho, um saltimbanco da Ásia,
Convulso e roto, no apogeu da fúria,
Executando evoluções de rázia
Solta um brado epilético de injúria!
Em derredor duma ampla mesa preta
- Última nota do conúbio infando_
Vêem-se dez jogadores de roleta
Fumando, discutindo, conversando.
Resplandece a celeste superfície.
Dorme soturna a natureza sábia...
Embaixo, na mais próxima planície,
Pasta um cavalo esplêndido da Arábia.
Vaga no espaço um silfo solitário,
Troam kinnors! Depois tudo é tranquilo...
Apenas como um velho estradivário,
Soluça toda a noite a água do Nilo!
Cairo Street
Augusto dos Anjos tinha uns 14 anos quando morreu Cruz e Sousa ...e o soneto e o poema são como encontros de gerações pra mim ..(sou fã dos dois )...
.. O Egito é sempre o antigo, o velho rito. e ...O Egito é sempre assim quando anoitece... as duas paisagens são paralelas mas com sentidos diferentes.. e a genialidade está aí ..enquanto que em Cruz e Sousa o tema é levado de modo interiorizado, levando a silencios..a pausas... Augusto dos Anjos leva o tema para as ruas, às pessoas...
A mesma coisa se observa no soneto "Sarcófago" de Augusto dos Anjos e o "Vida obscura" de Cruz e Sousa:
" Ah! Ninguém ouve o soluçante brado
De dor profunda, acérrima e latente."
(Augusto)
"Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro"
Cruz e Sousa.
Mas como o post é para o Augusto dos Anjos ..o poema em que ele está 100% ele é esse aqui:
Eterna Mágoa
"O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Magoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, quanto mais resiste
Mas se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.
Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Tranpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda.!
Augusto dos Anjos
Falar desses tres aí em cima é de uma responsabilidade enorme...primeiro que sou fã e fã é dado o direito da idolatria...da paixão sem medidas..essas coisas ...kkkkkkkkk mas o post é para o Augusto do Anjos que nasceu em 1884, lançou seu livro em 1912 e morreu em 1914... a influencia que ele teve de Baudelaire foi monstruosa ..assim como todos os simbolistas beberam de Baudelaire ... e Augusto leu Cruz e Sousa... e essas duas influencias trouxe para sua poesia a genialidade e uma originalidade suprema...um exemplo são essas duas preciosidades que tenho sempre comigo: No Egito de Cruz e Sousa... e Uma noite no Cairo de Augusto dos Anjos:
No Egito
Sob os ardentes sóis do fulvo Egito
De areia estuosa, de candente argila,
Dos sonhos da alma o turbilhão desfila,
Abre as asas no páramo infinito.
O Egito é sempre antigo, o velho rito
Onde um mistério singular se asila
E onde, talvez mais calma, mais tranquila
A alma descansa do sofrer prescrito.
Sobre ruínas d'ouro do passado
No céu cavo, remoto, ermo e sagrado,
Torva morte espectral pairou ufana...
E no aspecto de tudo, em torno, em tudo,
Árido, pétreo, silencioso, mudo,
Parece morta a própria dor humana !
Cruz e Sousa
Agora leiam o poema de Augusto dos Anjos:
Uma noite no Cairo
Noite no Egito. O céu claro e profundo
Fulgura. A rua é triste. A lua cheia
Está sinistra, e sobre a paz do mundo
A alma dos Faraós anda e vagueia.
Os mastins negros vão ladrando à lua...
O Cairo é de uma formosura arcaica.
No ângulo mais recôndito da rua
Passa cantando uma mulher hebraica.
O Egito é sempre assim quando anoitece!
Às vezes, das piramides o quedo
E atro perfil, exposto ao luar, parece
Uma sombria interjeição de medo
Como um constante àqueles misereres,
Num quiosque em festa a alegra turba grita,
E dentro dançam homens e mulheres
Numa aglomeração cosmopolita.
Tonto do vinho, um saltimbanco da Ásia,
Convulso e roto, no apogeu da fúria,
Executando evoluções de rázia
Solta um brado epilético de injúria!
Em derredor duma ampla mesa preta
- Última nota do conúbio infando_
Vêem-se dez jogadores de roleta
Fumando, discutindo, conversando.
Resplandece a celeste superfície.
Dorme soturna a natureza sábia...
Embaixo, na mais próxima planície,
Pasta um cavalo esplêndido da Arábia.
Vaga no espaço um silfo solitário,
Troam kinnors! Depois tudo é tranquilo...
Apenas como um velho estradivário,
Soluça toda a noite a água do Nilo!
Cairo Street
Augusto dos Anjos tinha uns 14 anos quando morreu Cruz e Sousa ...e o soneto e o poema são como encontros de gerações pra mim ..(sou fã dos dois )...
.. O Egito é sempre o antigo, o velho rito. e ...O Egito é sempre assim quando anoitece... as duas paisagens são paralelas mas com sentidos diferentes.. e a genialidade está aí ..enquanto que em Cruz e Sousa o tema é levado de modo interiorizado, levando a silencios..a pausas... Augusto dos Anjos leva o tema para as ruas, às pessoas...
A mesma coisa se observa no soneto "Sarcófago" de Augusto dos Anjos e o "Vida obscura" de Cruz e Sousa:
" Ah! Ninguém ouve o soluçante brado
De dor profunda, acérrima e latente."
(Augusto)
"Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro"
Cruz e Sousa.
Mas como o post é para o Augusto dos Anjos ..o poema em que ele está 100% ele é esse aqui:
Eterna Mágoa
"O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Magoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, quanto mais resiste
Mas se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.
Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Tranpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda.!
Augusto dos Anjos
"Entretanto, como até o indivíduo mais definido, ainda assim representa a espécie e o gênero a que pertence, e é um resultado objetivo antes de ser também subjetivo, a fatalidade da filiação permanece inerente à condição humana. E a Arte e Poesia são "vida" para o artista, antes de serem representação da vida para outros homens." Andrade Muricy resume quem foi Augusto dos Anjos.
Dias felizes a todos !!!
Comentários
Estes três, e mais alguns, foram meus "amiguinhos" de infância, hoje custo acreditar que foi assim... rsrs especialmente Baudelaire.
Gostei do nível de desenvolvimento deste post, é lindo ver este tipo de gosto em alguém, crescer no Rio de Janeiro né mole não, rsrs...
deixo Augusto:
CAPUT IMMORTALE
Ad poetam
Na dinâmica aziaga das descidas,
Aglomeradamente e em turbilhão
Solucem dentro do Universo ancião,
Todas as urbes siderais vencidas!
Morra o éter. Cesse a luz. Parem as vidas.
Sobre a pancosmológica exaustão
Reste apenas o acervo árido e vão
Das muscularidades consumidas!
Ainda assim, a animar o cosmos ermo,
Morto o comércio físico nefando,
Oh! Nauta aflito do Subliminal,
Como a última expressão da Dor sem termo,
Tua cabeça há de ficar vibrando
Na negatividade universal!
bjs